Archive for setembro 2010

Prosperidade...

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Era uma vez um homem muito rico chamado Elias. Constantemente ele era citado em revistas de negócios pelo sucesso de suas empresas. Era um modelo para jovens empreendedores e estudantes de administração em todos os sentidos. Elias era admirado inclusive pelos seus quase 4000 funcionários que o consideravam mais como um amigo do que como um patrão.

Mas a característica mais marcante em Elias era o amor que ele tinha para com os garotos de rua. Ao longo dos últimos anos, Elias já havia gastado milhões com casas de recuperação para drogados, orfanatos e escolas com cursos profissionalizantes.

Elias era totalmente inconformado com o sistema social que valoriza mais os animais do que as crianças. Não era raro ver Elias voltando para casa com uma nova criança de rua para cuidar.

Ele sempre fazia isso. Convidava as crianças e adolescentes de ruas a viver uma vida melhor do que nas ruas. E dava tudo de graça: moradia, conforto, amor paterno, alimento e também investia no ensino das crianças.

As crianças que davam valor ao presente de Elias e que quisessem prosseguir com os ensinos, ganhavam de Elias o ingresso para a universidade.

A história que apresento a seguir aconteceu quando Elias trouxe das ruas o jovem Pedro. Havia 56 crianças na mansão de Elias quando Pedro foi resgatado. Pedro tinha 12 anos. Aos 7 viu seus pais serem assassinados por deverem a traficantes poderosos. Pedro era usuário de maconha e cocaína e aceitou, com gratidão, o convite de Elias:

– Pedro, venha comigo. Serei seu pai e melhor amigo. Te darei roupas limpas, comida boa e um telhado para dormir. Você vai estudar, aprender uma profissão e vencerá na vida.

Pedro ficou constrangido pelo amor do velho Elias. Jamais alguém havia oferecido algo gratuito a Pedro (exceto as primeiras doses de droga).

As crianças resgatadas por Elias não deixavam de ser crianças. Eram bagunceiras e constantemente aprontavam bagunças na mansão do velho Elias, que não se alterava em relação a isto.

– Deixe eles brincarem. São apenas crianças – Dizia Elias.

Elias porém era bastante rigoroso em alguns pontos. Não aceitava as “panelinhas” entre os meninos e dizia que todos eram iguais, sem exceções. Ele ensinava para as crianças que os maiores tesouros que as pessoas podem alcançar são gratuitos: sinceridade, humildade e amor ao próximo.

– Eu sou dono de muitas empresas, sou respeitadíssimo em todo mundo, mas, se eu não tivesse amor, não teria nada. Sigam meu exemplo crianças.

Todas aquelas palavras encantavam Pedro. Ele já estava fazendo planos para o futuro. Pedro queria ser rico, muito rico, para retribuir o favor do velho Elias e ajudar os jovens nas ruas.

O começo desastroso dessa história começa em uma fria manhã de domingo. Pedro foi ao encontro de Elias em seu escritório e lhe disse:

– Pai, eu economizei uma parte do dinheiro que você me deu este mês. Não consegui lanchar na escola sabendo que meus antigos amigos estão nas ruas se destruindo por causa das drogas. Sei que não é muito, mas gostaria de lhe devolver esse dinheiro para que você ajude outras pessoas.

Aquilo encheu o coração de Elias de alegria. O dono de milhões se sentiu abalado por uma quantia de 15 reais.

– Pedro. Que gesto maravilhoso! Amo todos vocês sem distinção, mas esse foi o ato mais maravilhoso que já presenciei entre todas as crianças que resgatei.

Elias pensou em devolver o dinheiro a Pedro, mas pensou, “Isto desvalorizará o esforço que ele teve para juntar esse dinheiro”.

– Pedro – disse Elias – venha comigo.

Elias foi à estante de livros, abriu uma das prateleiras e retirou de lá um bracelete, o deu a Pedro e disse:

– Sua atitude é digna de louvor, estou orgulhoso de você. Venha, quero contar a todos seu ato. Eles devem ter no coração o mesmo sentimento que você tem.

Elias então chamou todas as 56 crianças, empregados e os vigias da casa para ouvirem o que ele tinha de falar.

– Crianças, alguns de vocês estão aqui há quatro anos. Sempre me orgulhei do crescimento de vocês. Porém, Pedro, que está aqui apenas três meses, foi o que me deu a maior alegria – e contou toda a história.

As crianças voltaram para seus quartos com sentimentos diferentes. Alguns sentiam inveja de Pedro, outros, orgulho. Muitos reconheceram que haviam se acomodado com o conforto, mas outros não gostaram da idéia de abandoná-lo.

Ao entrarem no quarto, Carlos percebeu o bracelete no braço de Pedro e indagou:

– Pedro, você só está aqui há três meses e pelo que ouvimos você economizou o dinheiro que tinha ganhado para devolver ao Pai, como você conseguiu esse bracelete de ouro?

– O Pai me deu de recompensa agora a pouco. Disse que eu mereci pelo que fiz.

Pedro por ser inocente não havia percebido, mas Carlos e os outros meninos perceberam que aquele colar era muito mais valioso do que a pequena quantia que Pedro havia devolvido.

Foi a partir daquela manhã de domingo que tudo mudou. As crianças entenderam tudo errado e passaram a fazer contas de como investir melhor o dinheiro do lanche. As crianças bolaram um esquema de Causa/Efeito para as ofertas que elas dariam. “Olha, Pedro deu 15 reais e ganhou um bracelete que deve valer mais de 1000 reais. Se eu não lanchar esse mês e pedir pra cancelar a aula de natação são 85 reais ao todo... O pai vai me recompensar bem assim”.

As crianças deixaram de amar Elias e começaram a bajulá-lo. Sempre viam a ele com uma lista mental de consumo. E o pior, se sentiam frustrados por Elias não corresponder à bajulação delas.

A situação já estava ficando embaraçosa. As crianças não cumprimentavam mais o velho Elias e se achavam no direito de exigir: “eu plantei e tenho direito de colher”. Quem sofria com isso era o velho Elias. Ele não cedia à alienação das crianças, pois não via sinceridade no coração delas. Para Elias, as crianças não estavam doando o dinheiro por amor aos órfãos de rua e sim para ganhar presentes.

Um dia Elias reuniu todas as crianças, exceto Pedro, pois temeu magoá-lo. Elias disse às crianças:

– Nas últimas semanas eu recebi vários envelopes em meu escritório vindo de vocês. Dentro dos envelopes eu encontrei dinheiro e um bilhete com o que vocês queriam em troca. Eu não cedi a nenhum dos pedidos lá e, desde então, tenho percebido que vocês estão tristes comigo. Eu salvei vocês do mundo. Dei alimentos, roupas novas, os matriculei na escola e dei toda estrutura para um crescimento de vida e vocês ainda querem mais? E tentam me comprar com dinheiro? Vocês realmente amam as crianças de rua ou usaram isso como desculpa para ganhar presentes?

Com essas palavras algumas crianças começaram baixar o semblante reconhecendo o erro. Porém Carlos e alguns outros se sentiam revoltados. Carlos então bradou em voz alta:

Eu fiz exatamente igual o Pedro, me esforcei, juntei dinheiro e dei a você para que você ajudasse as crianças de rua e você vem com esse papo?

Autor: Eliel Vieira
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É só uma história fictícia, mas exprime bem o que está sendo dito nas igrejas atualmente...Tem sido pregado a prosperidade financeira e tem-se esquecido que muitas pessoas passam fome aí. Creio que ser igreja é mais que ir aos cultos frequentemente e fazer "boas ações" simplesmente por fazer. Ser Igreja é bem mais que só isso. É refletir Cristo em nós, ser cristãos mesmo.

Charles Spurgion disse certa vez: “Eu jamais ousaria usar uma coroa de ouro na terra onde meu Senhor usou uma coroa de espinhos”.

Pensem um pouco...

A famosa Pedra...

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O famoso paradigma da pedra é um dos meios que alguns ateus e céticos menos racionais usam para "provar" a inexistência de Deus. Ou melhor, provar a inexistência de um poder onipotente e/ou infinito.
Tal raciocínio é um silogismo típico, composto por duas premissas e uma conclusão. Basicamente, eis a questão:
Premissa A= "Deus tem poder infinito"
Premissa B= "Deus pode criar um objeto que não se move, que está fixo no espaço”.
Conclusão= "Deus não pode mover o objeto" ou "Deus não existe e não há poder infinito ou onipotência"
A questão também pode ser formulada da seguinte forma: "Pode Deus fazer uma pedra tão pesada que nem ele mesmo possa carregá-la?”.
Aparentemente a questão parece sem sentido. Mas, pare e pense. Reflita sobre ela. As respostas possíveis são apenas duas:
1) Deus pode criar a pedra (onipotente), mas não pode move-la (não mais onipotente).
2) Deus não pode criar a pedra (não é onipotente)
Viram o beco sem saída?
Mas, fiquem calmos. Não virei ateu. Vim aqui tentar desmontar esse silogismo falso que até hoje pega muitos crentes desprevenidos. Vamos primeiramente com malácia e serenidade. A primeira coisa a se fazer após receber uma pergunta não é respondê-la. O autor pode induzir você, de modo que qualquer resposta dada satisfaça seus interesses. Esse é um dos casos. Antes de qualquer coisa, é necessário analisar as premissas e ver se elas são verdadeiras em si mesmas e depois, se não são autocontraditórias. Somente depois disso pode-se chegar até a conclusão. Então, vamos lá.
Premissa 1) Deus é onipotente -> pode tudo -> força irresistível;
Premissa 2) Deus cria um objeto fixo, que não se move, ou seja, irremovível.
A premissa 1 é verdadeira enquanto adotarmos que Deus é onipotente. Portanto, nada de errado. A premissa 2 também é verdadeira em si mesma, pois não há nenhum problema em um ser criador criar algo que nem ele possa remover depois. Não é algo ilógico. Um homem pode criar uma casa, mas não pode sair carregando-a por ai nos braços. Entretanto, vamos até a fase 3: comparar as duas premissas. É ai onde fica o ninho de morada da coruja.
O erro da conclusão consiste em supor que possa haver, ao mesmo tempo, uma força irresistível e um objeto irremovível. O que é contraditório. Uma força irresistível moveria tudo, e um objeto irremovível não seria movido por nada. As duas coisas não podem existir no mesmo tempo e no mesmo sentido. Ambas as premissas se anulam, de modo que não se pode chegar a conclusão alguma. É como perguntar qual o cheiro da cor lilás. Ou então indagar sobre a posição espacial de um ser incorpóreo. É ilógico. E premissas ilógicas não sustentam um silogismo. Portanto, o paradigma da pedra é falso, pois é ilógico.

Então cadê a onipotência?
A palavra Onipotência deriva da junção grega omni + potentia, que literalmente significa "União de todas as potências". A primeira via do movimento de Tomás de Aquino, na Suma Teológica, nos afirma que Deus é ato puro, predecessor de todas as potências. Ou seja, tudo o que nós vemos como potência, Deus já tem de forma inata. Um poder infinito, para os mais leigos.
Tendo isso em mente, eu pergunto: quanto poder é necessário para invalidar a lógica? Por exemplo, quanto de poder é necessário para fazer com que 1+1 seja 3 e não 2? O poder de uma bomba de pólvora? De nitrogênio líquido? De uma bomba atômica? De uma bomba de hidrogênio? De uma bomba de antimatéria? De uma bomba de vácuo (a mais poderosa, existe apenas na teoria)? Não. Nenhum desses poderes fará com que 1+1 deixe de ser dois. Nem se reunirmos todos eles e multiplicarmos pela potência do quadrado do outro. Nem se fossem infinitos. Isso porque as leis da lógica não são mantidas por uma relação de força, mas sim de racionalidade. Uma algema pode ser quebrada se aplicarmos sobre ela uma força a qual os compostos de seus materiais não resistam e se partam. Uma machadada talvez resolva. Entretanto, a lógica não é como uma algema. Ela não existe como algo concreto, mas tão somente é produto da racionalidade. Portanto, por mais força ou poder que haja, as leis da lógica não poderão ser quebradas.
Dessa forma, é impossível que as premissas A e B do paradigma da Pedra sejam verdadeiras ao mesmo tempo, inclusive para Deus, que mesmo tendo poder infinito, tal poder não pode quebrar as leis da lógica. Ele próprio é a lógica. Se Ele mesmo se autodenomina maior que todos os seres, nada nem ninguém será obstáculo à sua altura.
Você então me perguntaria: você está dizendo que Deus não tem capacidade para fazer isso? Sim. Mas eu não estou diminuindo a Deus, e sim aumentando-o! Deixe-me explicar:
O que é maior: um poder infinito contraditório ou um poder infinito não-contraditório?
À primeira vista um poder infinito contraditório parece ser maior. A Bíblia diz que é IMPOSSÍVEL que Deus minta. Entretanto, um Deus que poderia mentir, ou seja, contradizer-se, pareça ser mais capaz do que outro que está preso ao compromisso da verdade. Porém, não nos enganemos: tal raciocínio é falacioso. Explico.
Um poder infinito contraditório é menor do que um poder infinito não-contraditório simplesmente porque o primeiro não existe. Um poder infinito contraditório encontraria o problema da pedra, o que provaria que ele não existe. Entretanto, o poder infinito não-contraditório passa ileso por esse teste.
Portanto, dizemos que Deus é onipotente porque ele tem o maior poder de todos: o infinito não-contraditório.


post meio filosófico, mas é culpa da faculdade também...XD